quinta-feira, 22 de novembro de 2007

Sua Máquina a serviço do Crime

Hackers investem cada vez mais
em computadores zumbis, que aplicam
golpes sem que seu dono saiba

Marcelo Bortoloti

Hackers da internet deixaram há muito tempo de ser apenas es­tudantes de computação que­rendo aparecer na frente dos co­legas. Tornaram-se criminosos profis­sionais, estão organizados em máfias e praticam golpes de causar inveja aos la­drões de banco que ainda se arriscam com um revólver na mão. As ferramen­tas também evoluíram. Um dos grandes aliados na aplicação de golpes virtuais são hoje computadores alheios pluga­dos à internet, as chamadas máquinas zumbis. O nome se refere a computa­dores caseiros controlados remotamen­te por um invasor para cometer crimes, sem que seu dono desconfie. Redes com mais de 100 000 computadores zumbis sob o comando de um único criminoso já foram detectadas nos Estados Unidos e na Europa. É um exército que trabalha de forma sincronizada e pode enviar spams, invadir sites num ataque coleti­vo ou até hospedar material ilícito ou pornográfico. O computador escraviza­do também pode entregar dados pes­soais de seu dono. como contas bancá­rias, senhas ou número de cartão de cré­dito digitados no teclado.

O golpe não é novo mas cresce de forma perturbadora no Brasil. Uma pes­quisa da empresa de segurança digital Symantec, divulgada em outubro, mos­tra que o país tem praticamente a meta­de dos computadores zumbis da Améri­ca Latina, algo em torno de 140 000 má­quinas aliciadas. São 3% do total mun­dial, número inferior ao da China (20%) e ao dos Estados Unidos (19%), mas que nos coloca à frente de países como Itália,
Índia e Israel. Na prática, em vez de um úni­co computa­dor para apli­car o golpe, o criminoso passa a contar com milhares de ciberlaranjas para executar o trabalho sujo. Isso fez com que o usuário domés­tico se tornasse um dos pontos mais vulne­ráveis da segurança na internet hoje. Grandes empresas já descobriram que, mesmo paramen-tando seus sites com toda a prote­ção necessária, exis­te risco se o usuário final estiver desguarne­cido. O crescimento das redes zumbis no Brasil es­tá ligado diretamente ao nú­mero de computadores conecta­dos à internet em banda larga cerca de 4.7 milhões —. que são mais úteis aos criminosos pela rapidez na na­vegação e pelo tempo que ficam conec­tados, podendo ser recrutados a qualquer momento. Essa rede emergente de usuá­rios plugados em alta velocidade mas sem idéia dos perigos da internet nem muita disposição para gastar com manu­tenção preventiva é cobiçada no mundo inteiro. Tanto que invasores estrangeiros estão re­crutando no Brasil máquinas para atacar bancos.

ou instituições financeiras em seu país de origem. Hackers brasileiros também recrutam zumbis lá fora para despistar a polícia e mais tarde atacar empresas por aqui. "O crime virtual é difícil de ser combatido porque não encontra limites nas fronteiras dos países. Por isso a edu­cação do usuário final é o principal de­safio para a segurança atualmente", diz Carolina Aranha, coordenadora do Movimento Internet Segura, enti­dade formada por empresas que aluam na área de informática e desenvolvem ações para reduzir os riscos na rede.

É difícil saber o tama­nho do prejuízo causado pelos golpes virtuais no Brasil. Segundo instituto de Peritos em Tecnologias Digitais e Telecomunicações, as idas em 2005 foram de 300 milhões reais. O número é subestimado, já t boa parte das empresas camufla gs prejuízos reais. "Um banco teme que uma notícia desse teor faça parecer mais vulnerável que os demais", afirma Carolina. Outro problema é que ta polícia no país para combater esse tipo de crime. O núcleo da Polícia Federal responsável pela área virtual conta apenas com seis pessoas para mo-nitorar os golpes no Brasil inteiro. Também são raras as campanhas para educar o internauta doméstico

sobre os riscos da promiscuidade na rede.

Os cuidados envolvem adotar um comportamento preven­tivo tanto na navegação quanto na manutenção do computador. Isso quer dizer evitar softwares piratas, manter os programas sempre atualizados e insta­lar um bom antivírus. Os criminosos usam estratégias básicas, mas que ain­da convencem muita gente. Um golpe comum é enviar a milhares de endere­ços um e-mail contendo o programa ma­licioso escondido. A mensagem traz sempre algum atrativo, que pode ser uma proposta de empréstimo, um cartão vir­tual de alguém que se identifica como amigo de infância, ou mesmo assuntos em voga como a promessa de fotos do acidente com o avião da Gol ou imagens do coronel Ubiratan assassinado. Ao bai­xar o arquivo em anexo ou clicar no link sugerido, o usuário abre as portas para que seu computador seja controlado re­motamente. "O brasileiro é muito susce­tível a cair em armadilhas digitais. Se re­cebe algum e-mail que oferece qualquer tipo de benefício, ele clica para ver o que é". Diz José Matias Neto, gerente de suporte da McAfee, que trabalha com segurança na internet. O computador infec­tado pode, em alguns casos, ser rastreado pela po­lícia se estiver cometendo algum tipo de crime. Embora não tenha culpa, o usuá­rio vitimado também será obrigado a se
explicar. "Nos Estados Unidos o dono
de um computador que fica desprotegi­do pode até ser preso por negligência.
É o mesmo que deixar uma arma
carregada em cima da mesa", as­severa Douglas Wallace. Diretor de engenharia de sistemas da Symantec para a América Latina.


Revista Veja, edição 1981 - ano 39 - nº44 (08-11-2006)

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